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Mostrando postagens de agosto, 2015

Sobre caminhos e escolhas - Clóvis de Barros Filho

Boicotes não acabam com trabalho semiescravo

Nos últimos anos a mídia tem denunciado inúmeros casos de empresas multinacionais que violam direitos humanos e trabalhistas fora de seus países de origem, em geral, em suas fábricas, minas ou plantações em países em desenvolvimento.  Estas empresas aproveitam-se de leis trabalhistas menos severas, forte corrupção e fiscalização ineficiente para reduzir custos de produção em detrimento, muitas vezes, da segurança, saúde e bem-estar de seus empregados.  Das minas africanas às  sweatshops  asiáticas, o desrespeito aos direitos humanos e trabalhistas destes indivíduos têm gerado intenso debate sobre como melhorar as condições de trabalho à   nível internacional.   O mito das  sweatshops  – nem as marcas de luxo estão livres de trabalho semiescravo   O termo em inglês  sweatshop  foi criado para se referir a fábricas com condições desumanas de trabalho. Em geral são lugares onde a jornada de trabalho é superior a...

Longe de representar o conjunto do operariado, o proletariado dispõe-se a afirmar sua real condição

N ão é difícil perceber como precisaremos passar por uma redefinição profunda sobre o que vem a ser uma  política transformadora . Muitos acreditam não podermos colocar atualmente tais exigências de transformação por faltar sujeitos políticos constituídos que teriam a força de impulsionar processos. No Brasil e fora dele, vemos o descontentamento evidente com as promessas da vida social no interior do neoliberalismo, vemos o desencanto, mas não se segue daí a constituição de sujeitos capazes de forçar os limites do possível em direção a transformações estruturais. Tal situação talvez nos permita desmontar uma equação que imperou durante muito tempo no pensamento da esquerda brasileira, a saber, a de que o fundamento de uma subjetividade política com forte densidade seria dado pela constituição da consciência de  classe do operariado. Um dos eixos da crença na força política do  Partido dos Trabalhadores  veio, entre outros, dessa aposta na equação ...

Mais de 70% das pessoas que saíram às ruas de São Paulo são de cor branca, e quase metade tem renda familiar superior a 7 mil reais

Apesar de ter sido o terceiro grande protesto  contra o governo petista  e pelo  impeachment da presidenta Dilma  Rousseff, a manifestação de 16 de agosto mostrou que essa  série de movimentos  continua sendo constituída majoritariamente por  uma única camada da sociedade brasileira. É o que revela uma pesquisa com os participantes do ato em São Paulo, estado com o maior número de manifestantes. O perfil de quem tomou as ruas da capital paulista é: homem (57,30%), branco (73,60%), com idade entre 30 e 60 anos (59,2%), renda familiar superior a R$ 3.940 reais (70,9%) e alto nível de escolaridade (65,40%). “A nossa ideia era um pouco ver se o protesto continuava homogêneo, pessoas com ensino superior completo, brancas. E a primeira conclusão é que o protesto não conseguiu incluir outras classes sociais. É um protesto muito excludente”, afirma Esther Solano, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unife...

O príncipe dos sociólogos fala na ilegitimidade de Dilma, cuja legitimidade vem do voto popular e não das pesquisas

A  v erdadeira razão da voracidade da oposição contra Dilma vem da  baixíssima aprovação  do governo, como tem sido destacado em diversas pesquisas. Isso virou um ponto importante na lista dos  golpistas . A desaprovação das contas do governo no TCU e o processo aberto no TSE são truques  políticos da oposição  para confundir a sociedade. Nem tudo vem daí. As decisões dos julgamentos nos tribunais  são incertas e, assim, a conjuntura econômica negativa conjugada pela avaliação positiva do governo, reduzida a 8% da população, tornou-se fator determinante na luta pelo afastamento de Dilma do poder. Os  golpistas marcham  por essa estrada e ela desemboca, para citar o exemplo mais emblemático, na  Avenida Paulista . Atrás disso há variados interesses. Os pessoais, os políticos e, também, os poderosos interesses econômicos daqui e d’além-mar.  Uma crise econômica circunstancial sempre resulta, para os governos, em des...

Segundo a denúncia, remessas feitas à igreja evangélica eram uma das formas de recebimento de dinheiro

Parte da  propina paga  ao presidente da Câmara dos Deputados,  Eduardo Cunha  (PMDB-RJ), no esquema de  fraudes da Petrobras  teria sido feita por meio da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Segundo consta na  denúncia da Procuradoria-Geral da República , o operador do PMDB no esquema de fraudes na estatal, Fernando Soares – vulgo Fernando Baiano – orientou o lobista Júlio Camargo, que prestava serviços para a Toyo Setal, a efetuar dois depósitos no valor de 250 mil reais para a igreja. Segundo a denúncia, Baiano seria “sócio oculto” de Cunha nas fraudes. Os dois depósitos foram feitos no valor de 125 mil reais em 31 de agosto de 2012 pelas empresas Treviso e Piemonte, pertencentes a Camargo. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma na acusação que Camargo nunca fez qualquer tipo de doação à igreja e os depósitos tiveram a única finalidade de quitar dívidas com o deputado por conta do contrato entre a coreana Samsung e...

Envolvimento na Lava Jato pode levar deputado a radicalizar declarações, mas ações contra o Planalto podem perder força

Por Jean-Philip Struck O Ministério Público Federal apresentou nesta quinta-feira 20 d enúncia contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) , por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro. O deputado é acusado de ter  recebido 5 milhões de dólares em propina  para facilitar um negócio envolvendo a Petrobras. Mesmo com a denúncia, o deputado vem afirmando que não vai se afastar da presidência da Câmara. “Vou continuar no exercício para o qual fui eleito pela maioria da Casa. Estou absolutamente tranquilo e sereno  em relação a isso”, disse ele na quarta-feira. Para especialistas ouvidos pela  DW , as denúncias devem atingir Cunha em cheio e começar a corroer o poder do deputado, que nos últimos meses se tornou o  maior rival político do governo e da presidente Dilma Rousseff . “Ele vai sair de uma posição de ataque e passar a se defender. Isso vai demandar muita energia. Cunha não vai sair por conta própria, mas pela primeira ve...

Não querer discutir temas tão importantes é sintomático de uma sociedade imatura para o debate sério

Quem é feminista ou milita na luta antirracista ou no movimento LGBT, com certeza já ouviu de alguém a frase: “Ah, mas vocês só falam disso” ̵ seja para expressar cansaço ou destilar ódio. Essas pessoas, obviamente, ignoram que machismo e racismo são elementos estruturantes dessa sociedade, logo nenhum espaço estará isento dessas opressões.  Basta vermos as desigualdades salariais entre homens e mulheres  ̵ s e falarmos de mulheres negras, a distância é maior ainda  ̵  ou o número de jovens negros assassinados pelo Estado. Para nós, falar desses temas é questão de sobrevivência, é denunciar a dura e desigual realidade. Pedir para pararmos de falar disso, seguindo a síndrome Morgan Freeman de ser, é querer manter as coisas como estão. Freeman, em uma entrevista, disse que o dia em que pararmos de falar de racismo, ele deixará de existir, como se racismo fosse uma entidade. Fazendo uma analogia simplista, e um “argumento” simplista como esse requer uma anal...

Tocar, reunir e avançar

C omo diria Marx (o Groucho): todos nascemos iguais, exceto alguns economistas petistas e alguns políticos tucanos. Nas últimas semanas, têm feito enorme esforço de qualificação para o prêmio Ignobel de Economia e de Política de 2015. Igualam-se em potência intelectual quando propõem, respectivamente, para a saída da  crise econômica , mais política anticíclica (para corrigir um desequilíbrio fiscal estrutural cuidadosamente construído) e para a saída da  crise política , nada menos do que a ideia genial de uma nova eleição. Isso, apenas, se não conseguirem um “jeitinho” de substituir, no tapetão, quem ganhou a eleição por quem a perdeu. Tinha razão meu velho professor Montoro: a de que escuridão pode nos levar à ambição desmedida! É tempo de todos colocarmos de lado o pensamento mágico e colaborarmos para o bom funcionamento das sólidas instituições que construímos. É preciso respeitar um mínimo da lógica econômica que tem sido usada, nos últimos cem anos, em todas as so...

Política monetária em tempos de crise

ises financeiras, como a ocorrida em 2008, são acompanhadas por fortes quedas da produtividade total dos fatores (PTF) nos países emergentes. Tal efeito é amplamente documentado para todas as economias emergentes por Calvo et alii (2006) e Cerra (2008), para as crises nas décadas de 80 e 90, e por Queralto (2012) para a crise de 2008. Neste artigo, mostramos evidências de que a crise de 2008 levou a uma queda da PTF no Brasil e apresentamos um modelo onde os efeitos reais da crise resultam de choques externos que implicam em mudanças nos preços relativos dos fatores de produção, e assim na PTF. Tal modelo é estimado para a economia brasileira, e as implicações para a condução de política monetária são discutidas. Nós analisamos dois tipos de choques externos sob os quais a economia brasileira se deparou recentemente, e suas conseqüências sobre a economia: choques de  sudden-stops  e choques nos termos de troca. Dessa forma, o foco do artigo será avaliar a condução de políti...